quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Da Segunda Carta De Scudder







" Senhor Hall, vou pra Londres na terça feira. Se não quer que eu aparece em sua casa, diga onde em Londres, é melhor que vá ao meu encontro. Ou poderá se arrepender. Senhor, nada digno de nota ocorreu depois que foi embora de Penge. O criquete parece ter acabado,certas árvores grandes perderam algumas folhas, muito cedo esse ano. " 

Cordialmente
A.Scudder

Alec estava terrivelmente aflito ao escrever essa segunda carta. Magoado, ferido e humilhado ele tenta coagir Maurice a se encontrar com ele. Escrevendo uma carta puramente de chantagem. Solitario e desiludido ele deixa escapar em algumas linhas a fome de afeto, carinho e ternura que parecem consumi-lo. Sem se dar conta ele deixa escapar que passou a contar o tempo das coisas tendo como base a visita de Maurice. 

A solidão de Alec é desoladora, e ele aplaca isso não transando loucamente, mas falando pra um incerto e escorregadio companheiro sobre as folhas que caem das arvores. 

A carta prossegue nessa mistura de raiva, solidão e desespero. Ao mesmo tempo que tenta ferir Maurice com palavas Alec tenta trazer pra parte de si com os relatos do cotidiano esse poderia ser o seu unico companheiro.

Numa serie de posts eu e a Lilah tentamos explicar mais pra nós mesmos que para os outros que é um mito que os gays sejam mais ou menos promiscuos que qualquer pessoa.

Você pode discordar de mim e da Lilah que não somos ninguém no baile. Mas quero ver você ter coragem de discordar do E. M. Forster que já abordava o tema em 1913. 

Maurice é Alec não necessitam apenas de sexo e luxuria. Antes disso eles ansiavam pela possibilidade de se corresponderem sobre a banalidade das folhas que caem antes do tempo. 

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sô passiva meu amo !!!!

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Uns tempos atrás li uma coluna onde o baluarte da direita cristã Olavo de Carvalho defendia a posição contraria da Igreja Católica contra a homossexualidade.  Naquela virulência que lhe é peculiar ele situava o dogma católico e descia o cepo nos gays, apontando o preconceito, a hipocrisia e a falsidade moral de gays discriminarem gays. Pra tal ele relatava a conversa de dois gays ao se depararem com um travesti numa sauna gay. E eu tive que concordar com ele. 

Via de regra gays masculinos são bem mais ligados a imagem, juventude e beleza que o  resto das pessoas. E são bem SEVEROS nesses critérios de beleza, juventude e sensualidade. Suas chances de se dar bem na noite vao se reduzindo a medida que sua barriga vai crescendo. Se vc tiver poucos cabelos e já tem 40 anos, olha. SE APOSENTA

Dai a gente chega na categoria que carrega nas costas, rebolando e dando pinta 99,9% do preconceito contra homossexuais. Os afeminados. 

Sim. São eles  que carregam o maior fardo. Porque são mais visíveis. Porque são os primeiros a serem xingados, os primeiros a serem barrados nos lugares, os primeiros a serem espancados e os ÚLTIMOS a serem escolhido pra um encontro. 

No belo texto que gerou esse post a @Lilahleitora definiu com precisão: por que o problema não é ser gay é parecer gay

Se por um lados os heteros preconceituosos veem os afetados como  " anomalias e prova que Deus nao aceita essa gente " os gays preconceituosos os veem como uma sub classe que suja o nome,a imagem e a dignidade da categoria. 

Ah, se vc é afeminado e POBRE as noticias são péssimas pra você.

Os gays não se dao conta do quanto esse tipo de atitude e preconceituosa. Que esse tipo de humor AUTORIZA que QUALQUER pessoa se refira  a gays nesses termos. E eu posso te garantir  amigo, quando for com voce nao vai ter tanta graça assim. 

Eu sempre lembro da humilhação que o Dicesar passou em rede nacional. Porque a gente permite esse tipo de coisa. Pq quem não é afeminado acha que ta salvo. Acha que ufa, conseguiu. Conseguiu não amiguinho. Eles te "toleram". Não te respeitam, nao te querem e nem te amam. Só te toleram. Fica atento pra vc nao fazer nada que desagrade ok ? 


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Do porque não parar de lutar.



Logo cedo enquanto me preparava pra ir pro trabalho ouço pela CBN duas matérias:



2 - Casal de Lésbicas do Paraná disputa na Justiça direito a visita a uma criança de 12 anos, fruto dEe um relacionamento de 20 anos.


Da minha casa pro trabalho ao entrar no coletivo numa rápida olhada eu conto sete rapazes gays.  havia umas vinte ou vinte cinco pessoas dentro do coletivo.

Uma semana atrás o diretor do IBGE ao anunciar na TV as novidades do Censo 2010 avisa que pela primeira vez no País terá no questionário padrão do órgão uma opção para que se inclua na contagem os casais gays . No censo passado tal opção não existia. Os casais gays eram contados como indivíduos que coabitavam no mesmo espaço, sem laço de parentesco.


Três  semanas atrás acompanhei enquanto o sono permitiu a votação do Senado Argentino que permitiu o casamento gay na Argentina

Hoje um balde de agua fria foi jogado em cima de todas essas conquistas. Que deixa um travo amargo na boca. Um sentimento de impotência, frustração, dor e revolta.

No Irã cinco anos atrás dois adolescentes [ 18 e 17 anos ] foram enforcados por serem gays.
[ via @SarahShoeMe ]

É uma noticia velha você vai dizer. Anham, Velhíssima.

Dai você vai dizer: Era um travesti fazendo programa. Você tem razão só travestis e que morrem desse jeito.


O que choca AINDA mais no crime que ocorreu no Irã e que os jovens foram mortos PELO ESTADO.

Há muito a ser feito. É veja que um grande numero de gays alem de não fazer nada para que esse tipo de coisa não mais ocorra ainda ajuda a discriminar ainda mais o preconceito. Fazem piadas e dizem gracinhas daquilo que não é espelho. Minimizam os avanços da militância [ eu não quero casar, não precisa ter casamento ] fazem chacota dos gays mais pobres, mais efeminados, mais visíveis, mais discriminados.

Não consigo imaginar a dor e o sofrimento dessas três crianças mortas de forma tão barbara, tão cruel, tão desumana sem pensar que isso e um alerta de que a luta ainda não terminou e não vai terminar NUNCA. De que o preço que nos pagamos por essas conquistas que eu falei ali em cima foi ALTO DEMAIS e que não devemos abrir mão de um grama sequer que seja daquilo que já conseguimos porque pessoas MORRERAM e foram torturadas para que isso fosse possível.

De que não devemos dar nosso dinheiro, nosso voto, nosso apoio, nossa atenção, nosso tempo pra pessoas que contribuem para que isso continue acontecendo.


Que é necessário SIM exigir respeito, exigir cidadania, espernear contra os rótulos, lutar, lutar, lutar e lutar pra que NINGUÉM mais precise morrer por ser gay.


PS.: Eu acho que entendi agora porque essa noticia mexeu tanto comigo. No domingo eu fui num point gay da minha cidade. Um Quiosque a beira mar. E tocava funk. E é bem botecão popular. Mas o que chama a atenção e o publico. Gay. Jovem. MUITO. MUITO jovem. Meninos de 13, 14, 15 anos. Eu vi dois meninos se beijando. E me deu ate uma certa aflição. Pq eles pareciam ter ONZE ANOS cada um. As meninas eram igualmente novinhas. Todo mundo de bermuda, boné e chinelo.  Quando eu fui embora uma turma veio no mesmo onibus. E parecia excursão escolar. Praticamente todos pularam a roleta. Num clima bem pivete mesmo. Só que. Casaizinhos. De meninos e meninas. E eu achei um barato total.

Claro que nenhum deles deu a MENOR pelota pra mim. Eu tava de tenis, calça jeans e camisa social xadrex. Mais jeca e deslocado pro ambiente impossivel.

E eu fiquei imaginando uma daquelas carinhas alegres, risonhas, com uma vida inteira pela frente. Balançando numa forca de preconceito, ignorância e intolerância.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

1910




"A gente até respeita esse pessoal. Na verdade o sentimento é de dó, porque boa parte daquela situação é de doença. São pessoas doentes. Pessoas que nascem num sexo e pensam como se estivessem em outro precisam de tratamento."  - Vereador Carlos José Gaspar (PTdoB)

Via  A Capa

A Revolta dos Perdigotos








"A Revolta dos Perdigotos"
Homoterrorismo é a desimportância em desespero. A sexualidade é inalterável e inatingível. E quando se trata de sexualidade, só existe uma coisa no mundo que consegue ser mais desprovida de importância que a opinião pessoal: o julgamento moral.

Você pode julgar quanto quiser a sexualidade alheia. Não tem importância. Você pode ser hétero e fazer a elegia dos seus amigos gays. Não tem importância. Você ser gay e fazer piadas maldosas sobre o comportamento ‘careta’ dos héteros. Não tem importância. Eles não deixarão de ser o que são.

Você pode ser conservador e barrar leis no Congresso, fazer passeatas pela família, dizer que o mundo está acabando, que Deus vai punir a todos. Não tem importância, não passa do registro da fofoca, ninguém vai deixar de se deitar com quem quer. Pode até deitar escondido, ou demorar a criar coragem, mas vai deitar. Deitar e suar e trocar saliva e outros fluidos que, com sorte, ficarão na camisinha.

E você pode achar isto nojento. Mas não tem importância Pois a sua opinião e o seu julgamento sobre a sexualidade alheia não tem importância. Porque é alheia. Se é alheia, é do outro; se é do outro, não é sua; não sendo sua, não vai mudar por sua causa.

Você pode ser deputado crente ou padre pitboy, pode ser simpatizante ou skinhead, pode ser presidente do Irã ou suplente do PTC, grandes coisas, azar o seu, a sexualidade alheia continuará a não ser da sua conta. O pessoal vai continuar deitando e suando e trocando saliva enquanto você desperdiça os seus perdigotos uivando indignações pelas esquinas.

Aí, numa desesperada tentativa de não admitir que seu julgamento moral é inútil, você joga uma bomba. Você pode até matar alguns indivíduos. Ferir outros. Emperrar a vida de muitos. Vãs tentativas de ter importância, pois não vai, jamais, impedir que o mundo gire, a lusitana rode e as pessoas se deitem com quem quiserem, como quiserem. Seu julgamento moral e sua opinião, quaisquer que sejam, serão para sempre da mais profunda desimportância.

A não ser, claro, para você mesmo. Pois como diz Tennesse Williams na voz de Chance, o protagonista de ‘Doce pássaro da juventude’, a grande diferença entre as pessoas neste mundo ‘ não é entre quem é rico e pobre, bom ou mau.É entre quem tem ou teve prazer no amor e quem nunca teve prazer no amor, apenas observou, com inveja, inveja doentia’.”

João Ximenes Braga – O Globo – 21/06/2009 


Eu nao conhecia esse artigo. Dai um dia no twitter a @halines linkou. E eu fiquei dias pensando nele. 



segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vivemos numa ditadura gay ?




A ditadura gay
CARLOS APOLINARIO


Eu não concordei com a Prefeitura de SP quando ela proibiu as manifestações na avenida Paulista, mas lá manteve a Parada Gay


De alguns anos para cá, muito se tem falado sobre gays e lésbicas. Em todas as Casas Legislativas, e também no Executivo, têm sido aprovadas leis a esse respeito -e ainda existem muitos projetos em tramitação.
A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a lei nº 10.948/ 2001, que determina: se alguém for acusado de discriminar um gay em uma empresa, além da multa e do processo penal, o estabelecimento poderá ter cassada a licença de funcionamento. Ou seja, se a empresa tiver 200 funcionários e sua licença for cassada, todos serão punidos com a perda do emprego.
O movimento gay faz um intenso lobby para que o Congresso Nacional altere a lei nº 7.716, que define os crimes de racismo.
O objetivo das lideranças gays é que a legislação passe a punir também aqueles que têm uma opinião divergente das suas.
Se alguém falar contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou disser que não concorda com a adoção de crianças por homossexuais, poderá ser processado.
E mais: caso essa lei seja alterada, não poderei falar da Parada Gay, nem mesmo fazer o discurso contra a instalação da Central de Informação Turística GLS pela Prefeitura de São Paulo, como fiz na Câmara Municipal. E não poderia nem escrever este artigo.
A Constituição Federal assegura o direito à liberdade de expressão.
Podemos criticar divórcio entre héteros, sindicatos, empresários, políticos, católicos, evangélicos, padres e pastores, mas, se falarmos contra o pensamento dos gays, somos considerados homofóbicos e nos ameaçam, até com processos.
Punir alguém por manifestar opinião divergente é próprio das ditaduras. Eu tenho a convicção de que já estamos vivendo numa ditadura gay, pois, na democracia, qualquer pessoa pode discordar.
Eu não concordei com a Prefeitura de São Paulo quando ela proibiu as manifestações na avenida Paulista, mas lá manteve a Parada Gay. A Paulista é uma via de acesso aos principais hospitais da cidade.
Por esse motivo, foi proibida a realização de eventos, entre eles a comemoração do Dia do Trabalho promovida pela CUT e a Marcha para Jesus. Não faz sentido manter a Parada Gay na Paulista.
Por defender essa posição, sou acusado de ser homofóbico.
Também sou acusado de homofobia por me manifestar contrariamente à participação da prefeitura na criação da Central de Informação Turística GLS no Casarão Brasil, sede de uma ONG gay.
Não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo. O ideal é criar um serviço que atenda a todos os segmentos sociais, já que a Constituição diz que todos somos iguais perante a lei.
Respeito o gay e a lésbica, pois, como cristão, aprendi o significado e o valor do livre-arbítrio, mas discordo da exclusividade que o poder público dá à comunidade gay.
Essas medidas tornam os homossexuais uma categoria especial de pessoas. Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco alguém apresentará um projeto transformando São Paulo na capital gay do país.

CARLOS APOLINARIO, vereador em São Paulo pelo DEM, é líder do partido na Câmara Municipal. Foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e deputado federal.
Fonte: Folha de S.Paulo [ Via @marjerodrigues ]






Esse é o pensamento de nossas excelencias da bancada evangelica sobre os direitos dos gays.
Veja bem. Os gays passam a oprimir uma sociedade inteira. Não queremos APENAS os nossos direitos de cidadãos brasileiros respeitados. Partimos pro ataque. Queremos tomar conta do baile todo. 

E a Folha  que não se furta a expor todo o esgoto que é a direita brasileira alegremente  abre as portas pro ranço do atraso fundamentalista religioso. 2012 amigos. Mais perto do que vcs imaginam.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quem faz o drama e a militância.


Não existe racismo. Não existem negros. Não existem indios. E agora a Veja descobre que homofobia quem criou foi você militante. Para de ser dramatico e vem viver nesse mundo cor de rosa.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Da carta.

Senhor Maurice. Querido Senhor.

Esperei duas noites na casa de barcos. Disse  a casa de barcos, porque tinham levado a escada e no bosque é úmido demais pra deitar. Por isso por favor venha para a casa de barcos amanhã à noite, ou na outra, fale para os outros cavalheiros que quer dar uma volta, o que é fácil, e venha para a casa de barcos. Querido, vamos nos unir uma vez mais antes que eu abandone a velha inglaterra, se nao for pedir muito. Desde o jogo de criquete  quero muito falar com o senhor, quero segurar o senhor com um dos meus braços, depois com dois, para nos unirmos; o que escrevi agora parece mais doce do que as palavras podem dizer. Sei muito bem que sou apenas um criado e nunca me aproveitaria de sua bondade afetuosa para tomar liberdades ou qualquer outra coisa. 

                                                                                           Respeitosamente seu,




                                                                                           A. Scudder.






Eu gosto demais desta carta. Porque ela fala tanto da pessoa Scudder. Dos seus sonhos. Das suas aspirações. Da pessoa pratica acostumada a pensar em soluções para os outros. Da fome de carinho, afeição e ternura que ele expressa em frases diretas e desprovidas de melosidade. Penso que Scudder é uma aspiração do proprio Forster. O cavaleiro branco que o salvaria de uma vida de solidão. Não sabemos que tipo de agonia Scudder sofre. Sabemos que ele é o mais corajoso e destemido dos três. A pessoa que não tem medo de arriscar. Ele tem esse misto de timidez, malicia, ingenuidade, sonho e ousadia. Quem é esse Scudder que invade janelas e salta de navios ? Nunca saberemos ao certo. Só sabemos que eles causam estragos.

sábado, 17 de abril de 2010

O QUE VOCÊ TEM A PERDER ?





Não queria que esse fosse um post de um hetero sobre um livro com “temática homo”. Mas, porém. Ele é. Veja aí a primeira frase:“temática homo”. Por mais que me esforce, meu olhar sobre Maurice é um olhar de hetero. Um olhar “de fora”. Sujeito a distorções e a não percepção de nuances que não fazem parte do meu arcabouço imaginário. Mas enfim, aí vamos nós. Vou correr o risco.
Tento imaginar como é gostar de alguém e não poder dar a mão na rua, não poder dizer que ama, não poder ir ao cinema, ao restaurante, à academia, ao clube, ao jogo de futebol, à balada. Tento imaginar olhares lançados sendo interrompidos pelo medo do desprezo, e, pior: tento sentir os olhares de desprezo. Imagino como é sentir amor, sentir tesão, sentir desejo, e ser obrigado a usar em todas as relações uma régua onde cada centímetro vale um quilômetro. A distância que separa as possibilidades de concretização tendem a ser maiores, já que a trena da moral tem marcações muito mais largas quando se está fora da norma. As normas. Os códigos.
Maurice por muito tempo parece confuso. Mas a confusão maior está em Clive. Porque Maurice permanece em conflito. Clive é a desistência. Maurice está em conflito, Clive entra na conformidade. Gosto de pensar que a confusão está, na verdade, no gesto de se conformar. O conflito não é confusão. O conflito é a busca e, se se está em busca, qual é mesmo a confusão? A conformidade é a aceitação de que a confusão está instalada e é melhor deixá-la ali escondidinha, já que o eu-social quer sempre o não-conflito.
Mas percebi em Clive e Maurice alguma coisa que pode ser transposta para qualquer relacionamento. O eterno jogo do perde-e-ganha. O eterno descompasso, mesmo entre os aparentemente afinados. Nas relações hetero, que não são livres de preconceitos – negro-branco, gordo-magro, jovem-velho, rico-pobre - o descompasso acaba fazendo um vencedor aos olhos de quem questiona. A diferença é que Maurice e Clive e quase todo mundo que vive os dilemas particulares de Maurice e Clive são obrigados a fazer do eu-social algo que mata o eu-eu, e isso faz dessas relações, na verdade, um jogo de perde-e-perde. Não há empate. E não há vencedores. Há perdedores, sempre. Porque a moral vigente esmaga as vitórias conquistadas mesmo em ambientes livres, os não-lugares que alguém já citou aqui. Porque o não-lugar é sempre menor que o lugar. A moral derrota em cada olhar de reprovação lançado sobre os envolvidos. Em cada riso disfarçado. Em cada toque de mão evitado, em cada  piada sobre a parada gay.
Então, consegui ver em Maurice um pouco do que é viver isso. Um pouco. Uma pequena amostra. Do que é a angústia, a solidão, o sentimento de inadequação, a luta permanente do eu-eu contra o eu-social. Que normalmente vence, seja em qual for o tipo de relação. O eu-eu de Clive perdeu a luta para o eu-social. A família, a moral vigente, a posição na sociedade. São forças extremamente poderosas, e não é qualquer Clive que as supera.
E Clives existem aos montes por aí.
Sim, tem Scudder. Mas isso é para outro post.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Do Camuflar




Eu não consigo criticar a postura do Eduardo. Eu vejo esse sorriso bonito, essa esperança que quase o tira do chão, esse otimismo de quem finalmente acha que encontrou uma saida e eu acabo ficando somente muito triste por ele. Por mim. Por nós. Vejam o que fazem conosco. Vejam como brincam com os nossos sonhos, as nossas dores, as nossas lagrimas.Crente é bem filho da puta, vamos combinar. A percepção que os "cristãos" tem da homossexualidade foi lapidada pelo evangelista Paulo. Na carta que ele escreveu aos Romanos. Acredite os atuais crentes conseguem ser BEM mais obtusos. Dai e compreensível que o jovem, belo e indefeso Eduardo faça das tripas coração para escapulir dessa sina. Vale qualquer negocio. Só que não informaram para o Eduardo que ele se sentia tal mal consigo não porque fosse gay, mas por que para algumas pessoas viver é infinitamente mais complicado do que pra outras. A sexualidade de ninguém muda, assim como se muda a cor dos olhos. Mas tem pessoas que vivem uma vida inteira com lentes coloridas e ninguém se da conta. Eu acredito que o Eduardo possa sim viver bem e feliz consigo, não o tempo todo, mas a maior parte do tempo sublimando a sua questão sexual.Ele só quer ser deixado em paz. Eu entendo demais isso. Por isso sou contra patrulha, outing forçada e coisas assim. Se o Eduardo acha que deixou de ser gay quem sou eu pra dizer qualquer coisa ao contrario ? Só ele sabe o calor do inferno em que ele tava metido. Eu to numas de filtrar toda e qualquer questão sobre sexualidade gay através de Maurice. Desculpa todo mundo. Virou parâmetro. Sempre tento encaixar. E dai eu percebo que o tempo avançou. A sociedade mudou é agora o coitado do Clive se chama Eduardo é espera que uma esposa cristã o defenda da possibilidade de surgir um Maurice das sombras.


O video é antigo. Vi hoje via @Cleycianne. A paquita de Jesus.

PS.: Tudo o que o Eduardo fala das coisas negativas do mundo gay está textualmente escrito na passagem citada de Romanos. Sem tirar nem por.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Do Viver a Espreita.




"Quer dizer, estava lá durante toda aquela chuva infernal ? "
"Sim... estava lá vigiando ... Ah, não é nada, a gente precisa vigiar não é ?"

pag 200 A primeira conversa intima de Alec e Maurice


Maurice - E. M Forster - Londres - 1910
Cores Proibidas - Yukio Mishima - Tokio - 1950
Labirinto de Paixões - Pedro Almodovar - Madrid - 1980
Angels in America - Mike Nichols - Nova York - 1985

Quatro obras com  realidades distintas. Quatro abordagens diferentes. Duas coisas em comum  entre elas. O Tema [ homossexualidade ] e um pequeno recorte  solto praticamente  a esmo no meio de tanto a coisa a observar. A eterna VIGILÂNCIA.  A busca por elementos iguais numa paisagem em em que reza a lenda teriamos que passar despercebidos.

Homossexualidade não deixa sinal na testa. Procurar essa "centelha" de identificação passa a ser uma segunda natureza. Dai um dos primeiros sinais que se observa ao procurar um gay na multidão é um olhar a espreita.

No primeiro encontro de Maurice com Clive, Forster escreve:

"O meu também" disse Durham, olhando-o nos olhos. Por hábito Maurice teria desviado o olhar, mas manteve-o firme desta vez "

Exatamente o que Maurice temia ao habitualmente desviar o olhar ?

E porque desta vez ele nao se furtou ao escrutínio de um outro olhar inquiridor ?


Maurice temia ser descoberto. Medo que o seu interior tumultuado e turbulento escapulisse a uma sondagem mais apurada. Por que a construção de uma identidade gay passa por esse terror. " E se alguém descobre ?" Dai essa vigilância se torna redobrada. E um tanto esquizofrênica. porque você precisa esmiuçar o exterior a cata de elementos iguais. E por tabela precisa se vigiar pra não direcionar o seu olhar pra locais onde ele não é desejado. E que talvez as pessoas erradas "descubram" o seu segredo. Sentiram o drama né ?

Maurice não recuou porque chega uma hora que você precisa arriscar. Ele não tinha uma ideia muito claro do que encontraria ao ir até o quarto de Risley [ onde ele se depara com Clive pela primeira vez ] mas ele estava em busca de algo. 

Forster que é um romancista excepcional, nunca nos deixa de fornecer elementos que comprovem que o interior de  Maurice [ ou o dele próprio, ou o meu é o seu ] é uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Maurice sempre está com os nervos em frangalhos. 1910 amigos. Parada gay ainda não existia. 


segunda-feira, 8 de março de 2010

Fora do lugar, dentro do assunto.

Eu sei que o tema do blog é o livro Maurice.

Sei também que temos mais exemplos de homofobia pra citar que dedos nas mãos.

Mas foi um papo tão exemplificador. Da mistura de conceitos e preconceitos que cercam o tema. 

Dois rapazes, uma moça. Conversam no onibus. Os assuntos de sempre: academia, substâncias ilegais pra ganhar massa muscular conseguidas com o tio farmaceutico, micaretas, ivete sangalo. Enfim. A juventude dourada da nossa classe media veia de guerra. Faltou  dois temas recorrentes. Verão e balada. opa !! apareceu. Um dos moços tinha um caso pra narrar. De uma festa. infestada de viados, que ele foi sem  saber. Os outros dois concordam enfaticamente " tá impossivel sair sem ver essas coisas nojentas acontecendo"

Dai a moça começou a narrar do HORRIVEL caso que aconteceu na faculdade dela. De uma menina recem chegada, toda patricinha, altos gata. que a homarada toda tentou catar. e a menina nada. Dai um dos rapazes viu essa menina aos beijos com outra menina da mesma sala. Foi um Deus nos acuda. A homarada indignada tomou providencia e um sms anonimo chegou no telefone da mae. Que foi na faculdade fez o maior escarcéu  e tirou  filha de la. Todo mundo vingado, pra espanto geral as duas moças seguem o namoro e aparecem nos eventos sempre juntas de maos dadas. Pra verdade horror da moça do onibus: " eu não tenho nada contra, mas pela amor de Deus um pouco de respeito. Ninguem precisa ver essa coisa hedionda de duas mulheres se alisando em publicos, meus amigos [ a gente fina que dedurou a moça pra mãe ] ficam constrangidissimos com tudo aquilo ".
Um dos rapazes [ namorado da moça presumo ] Diz pro outro o quanto a moça e linda e gostosa, " impossivel ser sapatão " a moça completa indignadissima " quando ela chegou na faculdade eu abri os braços pra ela, fizemos trabalho juntas, até na minha casa ela foi. Imagina se a minha mae descobre que ela era sapatão ? "

Dai o outro rapaz [ que presumo, dirige um transporte escolar ] conta que "eles"  estao virando gays cada vez mais cedo. Inclusive um dos garotos que ele transporta fez um escandalo pq ele colocou funk no transporte escolar. dai ele esta esperando o pai do garoto ligar reclamando pra ele poder insinuar que o garoto nao gosta de funk pq e uma bichinha. Os tres riem.


Como eles sao universitarios e nao pega bem declarar homofobia em alto e bom som o papo muda e eles começam a dizer que adoram gays, mas que eles deveriam saber se comportar melhor. " Veja o serginho do BBB, é uma pessoa alegrissima, alto astral, adoro ele "   - a moça diz. Os rapazes completam Dizendo que nao tem nada contra " logico que nao temos, imagina " mas nao acham normal essa afetação toda. " eles deveriam ser um pouco mais homens " Os três concordam. 

Veja vcs que era um conversa cotidiana. Entre amigos. Normalissimo achar nojento ver duas moças de mao dadas. Normalissimo hostilizar um garoto de 13 anos meio afetado. Normalissimo achar o fim do mundo que sua mae quase descobriu que vc fez amizade com uma sapatão. Banal.
Como disse Hannah Arendt a banalidade do mal.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

o meu lugar, o lugar do outro e o não lugar.

não resisti. e piso em ovos porque estou entrando na esfera de @com_disfarce, mas tenho que falar sobre o não lugar.
Marc Augé, antropólogo, foi o responsável por cunhar essa nomenclatura. o não lugar é livre de qualquer identidade, não é histórico e nem relacional. estar num não lugar é optar, a grosso modo pelo não ser. porque você assume uma identidade quando encontra seu lugar no mundo. se você é gay, é muito fácil para você transitar na augusta, por exemplo, porque é um lugar relacional, histórico e remete à identidade gay. por apropriação. como o Castro em San Francisco. você apropria o lugar e ele passa a ser uma identidade também. o distrito da luz vermelha, ninguém precisa explicar o que é. é um lugar relacional. agora, na modernidade, o não lugar assume um também a ideia de que é um modus operandi de vida. um refúgio para aqueles que não encontram identidade em lugar algum. o não lugar em Maurice é o quarto. que se constitui como espaço de busca e discussão sobre uma identidade. Clive opta por um lugar convencional para a realização de seus sonhos profissionais. esse lugar convencional lhe possibilita a identidade necessária pra isso. é mais seguro, mas também castrador, ao passo que essa identidade não é realmente aquela que lhe condiz. é como se ele tivesse se travestido. enquanto Maurice opta por construir o seu lugar em referência a construir a si próprio e a existir no mundo dos lugares pré-determinados, desafiando-o.

a imitação do humano

a literatura é, antes de tudo, uma mímese da natureza que rodeia o humano e também a natureza humana. isso foi postulado por Aristóteles em sua Arte Poética e tem sido a base para os estudos literários. Forster foi um teórico da literatura e é daí que eu o conheço. foi ele que dissertou sobre a natureza das personagens, criando um novo eixo de análise: separou-as em planas e esféricas. analisando os tipos humanos e as pessoas com as quais topamos em nosso dia-a-dia fica fácil entender porque dessa classificação e também porque a esfera nos atrai mais do que o plano. vamos pensar assim: todo mundo consegue ver aquilo que está em um plano, é visível para todos. agora e dentro de uma esfera, alguém sabe o que tem dentro de uma esfera? é imprevisível até que você a parta e veja se ela é completamente cheia de isopor ou de algo que você olhe e diga UAU! Forster partiu dessa ideia de que nós podemos ser dotados de todas as previsibilidades possíveis ou de completas reviravoltas e deixa claro que aqueles que dão o tom são os capazes de reviravoltas. são os complexos. cheios de características psicológicas que ao invés de os delimitarem perante o leitor, criam mais e mais dúvidas: mas por que diabos eles agem assim, essas esferas que nos fazem tropeçar e inquirir sobre as coisas do mundo que queremos ignorar?
interessante notar como essa classificação é válida na vida real. temos tipos planos e esféricos que nos rodeiam. os previsíveis e os mistérios. dentro de Maurice dá pra ver bem essa divisão: Alec é um personagem esférico, apesar de ser um coadjuvante, Maurice pode ser colocado nessa classificação e Clive o que seria? fica aí minha pergunta. é sabido que o Forster, ele próprio homossexual, utilizou a narrativa para se posicionar. para estabelecer para si a própria história de sua vida, alguns dizem que Maurice é seu alter-ego.

Sobre o não lugar

Your Ad Here

Diego Andia Carvalho

On Sunday 28th February 2010, @DiCarvalho said:

reply
Bom, sobre a teoria do 'não lugar' de maurice, acho que ele anula a si mesmo quando aceita estar neste 'não lugar'. Como na moda, existem 4 eixos de raciocínio pra definí-la. A moda como modus (comportamento), a moda como criatividade e expressão (roupa), as duas juntos e a não moda.

A não moda por sua vez é a mais interessante, pois ao mesmo tempo que tenta anular as três primeiras, ela inevitavelmente, assumo o papel das três, pois não há como sair deste círculo vicioso do comportamento. Vejamos os Amishes, que vivem uma repetição estética de si mesmos. São ecos estéticos. Não-lugares de não-lugares. Então eles se anulam, e concretizam aquilo que não deveriam por pressuposto. Se tornam 'sim-lugares'. etc.rs..

Eu acho que a homossexualidade no geral, e a descrita no livro, vem a ser isso. Mesmo estando em não-lugares físicos, o nosso não-lugar psico-emotivo anula qualquer problema de ambientação ou aceitação, transformando o que é, por hora, errado em certo. Mesmo quando a melhor opção no livro fosse a fuga, isso na verdade é uma grande mentira, porque o mundo é grande "não-lugar", pq não é visto por uma sociedade e sim por indivíduos singulares, que formam uma sociedade. O problema iria andar de mãos-dada em qualquer lugares que estivessem.

Negando esse não lugar, o amor se concretiza, pq não há mais espaço pros ecos, pra repetições, pros modus tomarem forma.

Ele finalmente aceita!
Aquilo que o publico realmente abomina na homossexulidade não é a coisa em si, mas o fato de ser obrigado a pensar nela " by E. M. Forster

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Replies II

 

Verônica

On Friday 26th February 2010, @sampsycho said:
(In reply to AndreV_)

reply
@AndreV_ acho q o desconforto dos dois pode ser comparado ao desconforto do Enis e do quanto ele parecia aturdido com o fato de Jack estar mais à vontade com quem é. a verdade é essa. em algum momento não estamos à vontade com quem somos. uma das lutas é essa e eu vejo isso em Clive. passada essa fase, vem a luta pra pertencer a essa sociedade aí e é nesse momento q o Clive desmonta, pq não consegue ver saída do gueto, do quarto que Maurice escolheu.e pesa qual desconforto é menor.

 

 

Andre V

On Friday 26th February 2010, @AndreV_ said:
(In reply to sampsycho)

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@sampsycho Eu pensei muito no Ennis e no Jack também. Tanto que reli o conto. Tanto Jack quanto Maurice ficam a merce dos outros. Maurice vai mudando de opiniao a medida que troca de amante. Pq eu sou bem mais Ennis/Clive que gostaria de admitir. E todo mundo acha o jack bonito e gostoso. mas ele e um tonto. Assim como Maurice. Quem carrega o fardo de decidir o que fazer e Ennis e Clive. E ninguem gosta de ter que carregar o piano. Clive toma a iniciativa de dizer de que ama e chutar o pau da barraca numa situação ja consolidada. E o Ennis e quem da as diretrizes de como vai ser o negocio. No fim ambos se fodem mais. por conta disso. Ennis urra e vomita de tanta dor. mas aguenta calado. Clive se cala, se enterra numa vida mediocre que sempre desprezou mais nao foge ao compromisso. Fica facil pra maurice e Jack quando nao sao eles quem tem que fazer os sacrificios. Já viu neam ? eu vou sempre roubar pros ennis e clives da vida. (L) 

Verônica

On Friday 26th February 2010, @sampsycho said:
(In reply to AndreV_)

reply
@AndreV_ eu não entendo esse fica fácil. pq eu creio que todos somos interdependentes. a sua escolha excluí a minha, faz com q eu modifique o meu caminho a sua escolha. e quando a gente ama entra nessa de pedestaltismo, colocamos o outro no comando não pq nos exímimos de decidir, mas sim pq queremos dar ao outro o poder sobre nós, isso é, na cabeça de muitos tortos aí, uma prova de amor.o maurice vai mudando com a troca de namorados, pq ele não tem *O* namorado. Ennis toma a decisão que de certa forma excluí Jack, que dá uma pirada. não estou defendendo jacks e clives, maurice e ennis. estou dizendo q as escolhas foderam com todo mundo, independente de quem as tomou. e acho q as escolhas aspiram a essa adequação torta que todos insistimos em ter. 

Andre V

On Friday 26th February 2010, @AndreV_ said:
(In reply to sampsycho)

reply
@sampsycho Entendo bastante o seu ponto. no fim todo mundo se fode. pq a gente fica tentando estabelecer um equilibrio que nao existe. e sempre mais facil pros mais livres [ maurice e jack ] seguirem aqueles que estao mais presos. A minha pergunta é: quem seria "o" namorado do Maurice ? [ ou o meu, ou o seu ] pq ele nao sabe [ tampouco eu ] como seria tal pessoa. e o que ela teria que fazer na pratica pra que eu soubesse que chegou o momento. Maurice e clive vao tateando essas possibilidades no escuro. Pro ennis e pro jack simplesmente acontece. sem ninguem esperar. E a gente nem consegue pensar direito no Alec. De onde vem aquela coragem e destemor pra invadir janelas e pular fora de navios. E a gente se resigna que tal coisa nao acontece. e acaba por nunca acontecer mesmo. 


Verônica

On Friday 26th February 2010, @sampsycho said:
(In reply to AndreV_)

reply
@AndreV_ eu acho q *o* namorado do maurice é o clive, ou pelo menos a ideia q ele faz do clive. *o* seu namorado é a sua ex, travestida de homem. *o* meu namorado, talvez seja meu ex, travestido de mulher. acontece q as nossas relações são pautadas por quem nos despertou o maior amor. por quem nos fez nos reconhecer, para bem ou para mal. principalmente no nosso caso, se vc me entende. é isso que me irrita. pq essas possibilidades não existem. e eu quero mesmo *o/a* namorad*a/o*. 


Andre V

On Friday 26th February 2010, @AndreV_ said:
(In reply to sampsycho)

reply
@sampsycho e pq vc nao pode ficar com o seu ex e eu com a minha ex se é isso que no fundo a gente quer ? é isso que eu nao entendo [ sugiro troca, loiros de olhos azuis me apetecem ] 



@AndreV_ porque há as escolhas e em determinado momento deixamos de escolhê-los. como o clive deixou de escolher o maurice.

Replies

Verônica

On Friday 26th February 2010, @sampsycho said:
(In reply to AndreV_)

reply
@AndreV_ a sensação de não lugar é permanente em muitas pessoas, gays ou não. qdo eu era casada com meu ex, sofri muito preconceito, por ele ser loiro, alto, de olhos azuis e eu baixota, gordota e 4 olhos. nunca q em nossa sociedade eu poderia me unir e procriar com ele. e cheguei a ser apontada na rua por isso. obviamente que eu nem posso traçar analogia, pq para andar de mãos dadas com uma menina, eu preciso me enfiar em guetos. lembro-me de uma vez, em que eu e uma ex-namorada descemos a escada principal de um shopping de mãos bem dadas. *o escândalo*, vários casais homo são frequentemente barrados e cerceados no shopping frei caneca aqui em são paulo. o que, ao meu ver, indica que nem o básico de um relacionamento os gays devem mostrar em público, eles não têm o direito de imitar "algo tão destinado aos hétero" qto andar de mãos dadas e beijar em público. imagina imitar toda a estrutura calcada numa ideia primeiramente reliosa? o não lugar se manifesta a todo momento, inclusive na mente deles (maurice e clive), pq a mímese q eles procuram fazer dessa natureza q os rodeia fica impossível no momento em q todos apontam q a natureza deles é antinatural.

 

 

Andre V

On Friday 26th February 2010, @AndreV_ said:
(In reply to sampsycho)

reply
@sampsycho Então. Muito do descompasso deles [ clive & maurice ] e nosso [ os antinaturais, quer gays quer nao ] esta nesse paradoxo. A gente sente esse peso duplicado. Que é o desconforto com nos mesmos e com o mundo a nossa volta. Eu fico tentando nao pensar obviedades mas é incontornavel isso. a gente sofre mais que todo mundo. a verdade é essa.

Sobre ontem a noite

Andre V

On Friday 26th February 2010, @AndreV_ said:

reply
Pra @sampyscho @com_disfarce @fullgiu @samcunha @ludelfuego uma [ dentre as inumeras ] coisa que me chamou a atenção no livro e a questao do "nao-lugar " onde o amor dos dois se concretiza. quando maurice vai pela primeira vez na casa do clive este escolhe um quarto mais afastado e justifica " e o mais proximo da faculdade que eu consegui arranjar " tipos. Uma brokeback mountain. e a luta deles e se manter nesse lugar afastado e longe de julgamentos onde " ocupavam-se de uma paixao que poucas mentes inglesas jamais admitiram, de modo que podia ser criada sem entraves". E eles [ assim como nos ] falham terrivelmente nesse proposito. pq essa paixao passa a ser criada nos moldes falidos e bichados da heterosexualidade vigente. E dai uma coisa que deveria ser contruida a parte se contamina com os moldes mais nocivos e perniciosos de uma estrutura e de juizo moral que nos nega a total existencia. e muito do desconforto e da estranheza do modo gay de ser vem dai a meu ver. Dessa esquizofrenia. De estabelecer relações baseados num modo que nao se mantem de pe muito bem, com o onus de nao ser aceito por esse mesmo sistema torto que nos mesmos abraçamos [ simplesmente pq nunca houve um sistema diferente do atual] vcs todas sao sabidas e eu espero que sejam pacientes. pq obvio que tudo isso que eu disse ja foi pensado e falado por gente com mais conhecimento de causa. Pq a gente fica querendo se legitimar [ casando, adotando filhos, criando familias ] esperando as benesses de uma sociedade que obviamente nao nós quer. E a gente tampouco consegue escrever essa nova paixao sem entraves, criando algo novo e inesperado. Pq ?

Epilogo

Maurice talvez escape. E M. Forster, Setembro de 1960.