"Quer dizer, estava lá durante toda aquela chuva infernal ? "
"Sim... estava lá vigiando ... Ah, não é nada, a gente precisa vigiar não é ?"
pag 200 A primeira conversa intima de Alec e Maurice
Maurice - E. M Forster - Londres - 1910
Cores Proibidas - Yukio Mishima - Tokio - 1950
Labirinto de Paixões - Pedro Almodovar - Madrid - 1980
Angels in America - Mike Nichols - Nova York - 1985
Quatro obras com realidades distintas. Quatro abordagens diferentes. Duas coisas em comum entre elas. O Tema [ homossexualidade ] e um pequeno recorte solto praticamente a esmo no meio de tanto a coisa a observar. A eterna VIGILÂNCIA. A busca por elementos iguais numa paisagem em em que reza a lenda teriamos que passar despercebidos.
Homossexualidade não deixa sinal na testa. Procurar essa "centelha" de identificação passa a ser uma segunda natureza. Dai um dos primeiros sinais que se observa ao procurar um gay na multidão é um olhar a espreita.
No primeiro encontro de Maurice com Clive, Forster escreve:
"O meu também" disse Durham, olhando-o nos olhos. Por hábito Maurice teria desviado o olhar, mas manteve-o firme desta vez "
Exatamente o que Maurice temia ao habitualmente desviar o olhar ?
E porque desta vez ele nao se furtou ao escrutínio de um outro olhar inquiridor ?
Maurice temia ser descoberto. Medo que o seu interior tumultuado e turbulento escapulisse a uma sondagem mais apurada. Por que a construção de uma identidade gay passa por esse terror. " E se alguém descobre ?" Dai essa vigilância se torna redobrada. E um tanto esquizofrênica. porque você precisa esmiuçar o exterior a cata de elementos iguais. E por tabela precisa se vigiar pra não direcionar o seu olhar pra locais onde ele não é desejado. E que talvez as pessoas erradas "descubram" o seu segredo. Sentiram o drama né ?
Maurice não recuou porque chega uma hora que você precisa arriscar. Ele não tinha uma ideia muito claro do que encontraria ao ir até o quarto de Risley [ onde ele se depara com Clive pela primeira vez ] mas ele estava em busca de algo.
Forster que é um romancista excepcional, nunca nos deixa de fornecer elementos que comprovem que o interior de Maurice [ ou o dele próprio, ou o meu é o seu ] é uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento. Maurice sempre está com os nervos em frangalhos. 1910 amigos. Parada gay ainda não existia.